No horizonte pedagógico

A minha vida profissional levou-me a acreditar na importância do gosto pela matemática; na utilidade da matemática no nosso dia-a-dia; no papel que a matemática poderá exercer na modelação de muitos dos nossos raciocínios, tornando-os mais claros e aperfeiçoados; na acuidade que a matemática empresta ao nosso olhar para que possamos apreciar e interpretar, com maior nitidez, certas obras humanas ou certos aspectos, por vezes complexos, da natureza. Levou-me a experienciar  implicações da confluência de linguagens que estão ao nosso dispor – verbal, musical, corporal, plástica, matemática – concorrendo essa confluência para o encantamento; e para o imaginário infantil, motor de aprendizagens e da comunicação criativa.

Fiquei a saber que é possível construir ambientes que apoiem a criança no desenvolvimento de diferentes inteligências que, à partida, florescem em todos nós, tendo elas as condições propícias.

Fiquei a saber que é possível surpreender a criança com a matemática, estreitando ela os seus afectos para com esta disciplina – inegavelmente útil. E que pontes exequíveis entre linguagens tornam mais viável aquela surpresa.

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"Na educação matemática estão em jogo forças vivas capazes de contribuírem para a formação de personalidades simultaneamente críticas e flexíveis, abertas à compreensão holística mas também à rigorosa análise do detalhe. Sendo a matemática uma ciência onde o rigor lógico se une à imaginação criativa, há que saber geri-la e transmiti-la com a cabeça e com o coração, isto é, sem divorciar o pensar do sentir."

Teresa Vergani*, Educação Matemática,1993.


A sedução da matemática é feita de raciocínio e de imaginação; de harmonia; de desafio e de intuição; de presença e de utilidade.
Nesta perspectiva, esta página tem como intenção ilustrar momentos pontuais de processos possíveis de ensino – dirigidos aos mais novos – que contemplem, na sua abrangência e desenvolvimento, a persistência e a sedução, o labor, a imaginação e a criatividade, o pensamento visual e o pensamento lógico, o rigor, a compreensão e a descoberta, a concretização e a abstracção, os signos e a palavra. Processos que permitam esbater, com a devida cautela, fronteiras entre linguagens, comprometendo-se com aprendizagens formativas – mantendo-se, necessariamente e sempre, o rigor inerente a esta disciplina.

E apresentar algumas referências, que, de algum modo, sustentem reflexões de educadores de infância e professores para a (re)construção de seus horizontes pedagógicos, onde a inovação e o encantamento sejam possíveis…

Falaremos de pontes, poesia e matemática, de lengalengas e de contos matemáticos; de material para a construção de conceitos; da criatividade; da transculturalidade; do pensamento visual e estética; da competência matemática…

Haverá, portanto, referências às pedagogias da matemática; à matemática pela arte; às pedagogias do imaginário, à ludicidade e desafios…


*Teresa Vergani nasceu em Lisboa. A sua formação pluridisciplinar integra as ciências matemáticas, as ciências da educação, a teologia, a antropologia e a comunicação visual. Seus estudos de pós-graduação foram realizados em Bruxelas, Londres e Genebra. Doutorou-se em Antropologia, Matemática e Ciências da Educação. É poeta e artista plástica de tons fortes e marcantes. Foi consultora da UNESCO em países africanos de expressão portuguesa e exerceu funções docentes nas Universidades de Genebra, Lausana, Luanda e Lisboa e nas Escolas Superiores da Educação de Setúbal e de Santarém e na Universidade Aberta. Publicou mais de uma dezena de livros, além de diversos artigos em periódicos. Os seus escritos contemplam reflexões acerca da criatividade, como uma epistemologia fundamental para a compreensão do homem.

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