Do outro lado do espelho 1.

 Reflexões 

Foto: Raquel Dora Pinho.





Alice do outro lado do espelho:

Tal como todo o texto fantástico, a narrativa revela-se impregnada de elementos inverosímeis intrigantes, onde coexistem em ambiente mágico o onírico e o concreto.
O leitor é levado por caminhos cheios de suspense vindo a cruzar-se com as mais mirabolantes personagens.


A criança que lê ou escuta contos de autor faz a experiência do livro como fonte de prazer: o prazer de entrar deslumbrada nos meandros da narrativa; o prazer de idealizar personagens e cenários e de se deixar surpreender com peripécias inusitadas, de saborear momentos palpitantes; o prazer de imaginar para além do texto e, simultaneamente, fazer as suas suposições.
Provavelmente, ao estreitar a sua relação com livros de autor, a criança criará fortes razões para ler.

Dá, deste modo, entrada na literatura.


Na perspetiva de uma pedagogia da «leitura literária», os livros devem ser apresentados às crianças: título, autor, ilustrador, editor e, se for o caso, o título da coleção a que eventualmente pertença; época ou data em que foi escrito; e, se possível, outros livros do mesmo autor, bem como outras ilustrações do ilustrador.



Campos de exploração pedadógico-matemática
Há passos da narrativa circunscritos ao universo da matemática.



Excerto: página 15; Publicações Europa-América, Lda, 181, lb
Foto: Raquel Dora Pinho.
«­­- Agora Kitty, se estiveres com atenção e não falares tanto, eu conto-te todas as minhas ideias sobre a Casa do Espelho. Primeiro, lá está a sala que se vê do outro lado do Espelho; é exactamente como a nossa, só que as coisas estão ao contrário. Oh, quem me dera poder ver essa parte! Eu consigo vê-la toda, menos a parte que fica por de trás da lareira. Oh, quem me dera poder ver essa parte!Eu gostava tanto de saber se lá acendem a lareira no Inverno! Tu nunca podes ter a certeza disso, sabes, a não ser que saia fumo pela nossa lareira e então o fumo espalha-se também na outra sala, mas talvez sejam só eles a fazer de conta, para se darem ares de terem uma lareira. Olha, os livros são bastante parecidos com os nossos, só que as palavras se lêem ao contrário; eu sei isso, porque já peguei num dos nossos livros diante do espelho; e, nessa altura, eles, no outro quarto, também pegam num.
- Gostavas de viver na Casa do Espelho, Kitty?»



A abordagem pedagógica de um livro deve ter em conta a sua natureza. Neste caso: obra literária; obra de ficção; texto fantástico.

Rémy Stoecklé, no seu livro «Activités à partir de l'album de fiction, de l'école maternelle au collége», refere a importância de a prática pedagógica preservar e, até, incentivar a «atitude literária» da criança: a intuição de que a obra lida ou escutada é aberta a vários sentidos.
O leitor ou ouvinte dispõe de margens de liberdade na atribuição de significados a factos explícitos na narrativa, ou, mesmo, implícitos nas entrelinhas...

Nesta perspetiva:
As abordagens pedagógicas que procuram estimular explicações, aproximando as crianças da matemática, não deverão, de modo algum, perturbar a fruição do texto, nem destruir o seu «efeito de ficção». Ou seja, há que preservar o diálogo imaginativo que, de modo espontâneo, se estabelece entre o texto e a criança - o que nos obriga a dar tempo às reações genuínas da infância perante a fascinação que os textos poderão exercer.

Em suma:
A discussão matemática deve contemplar o espírito fantasioso do texto, mantendo-se, necessariamente, o rigor matemática (carácter desta disciplina).



No horizonte dos possíveis                                                                                   
Construção de uma gramática das reflexões.
- Ilustração de uma abordagem sustentada por perguntas abertas dirigidas à imaginação. E a competências narrativas e matemáticas: visualização, interpretação de imagem, experimentação, noção intuitiva de reflexão -

Situação experimental 1

Na Casa do Espelho.
Qual o título deste livro?
Percepção visual.

Na verdade, a Alice já tinha contado à Kitty que sabia como se leem as palavras na Casa do Espelho.
Como se leem?

E também já lhe tinha dito que as palavras, naquela Casa, se leem ao contrário: A Alice sabia isso porque já tinha pegado num dos seus livros diante de um espelho. Vamos fazer como a Alice? Põe, então, este livro diante de um espelho. 
Conta-me o que vês.






Na Casa de Alice. Na Casa do Espelho.
Qual o título deste livro?

Comprovação.
  • Colocar uma tira refletora perpendicularmente à borda do livro;
  • analisar as imagens;
  • comparar os títulos.







Situação experimental 2

Com letra redondinha.

Desenho do nome: Ana Miguel. | Foto: Raquel Dora Pinho.



Alice gosta de escrever com letra redondinha. Um dia, escreveu o seu nome num pedacinho de papel. E se o pedacinho de papel fosse da Casa do Espelho? Como se lia?

Vamos comprovar:
Escreve o teu nome - com letra redondinha - num pedacinho de papel.
Eu dou-te agora uma tira reflectora. E tu mostras-me se tens ou não razão.


Tiras refletoras.
Foto: Raquel Dora Pinho.



Situação experimental 3

A de Alice.
Desenho: Ana Miguel.
 Foto: Raquel Dora Pinho.







Desenha metade da letra A num pedacinho de papel.
Imagina que agora não tens à tua mão nem lápis nem caneta.
Como me poderias mostrar a letra A completa, a partir da parte que desenhaste?
De que material precisas?





Lewis Carrol: Pseudónimo de Charles Dogson, 1832-1898; matemático, escritor e fotógrafo. Autor de «Alice's Adventures in Wonderland», 1865, e «Trought the looking-glass, 1871.
Rémy Stoecklé: Professor na IUFM, Alsácia. 


Abordaremos novamente este conto, sob outros ângulos.

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